Qual o papel da TI na Análise de viabilidade de projetos
A análise de viabilidade de projetos, o que é chamado de PDP em algumas empresas (Processo de desenvolvimento de produtos), tem o objetivo de analisar a possibilidade de um novo produto ou serviço ser viável. Ou seja, obter sucesso no mercado, bons resultados. Além de elevar as chances de sucesso do projeto, muitas vezes esta análise é exigência quando busca-se captação de recursos em bancos ou financiadores.
É importante destacar que para fazer esta análise diversos fatores são levados em consideração. Como por exemplo: informações mercadológicas, estratégia da empresa, capacidade técnica, competência, legislação, retorno financeiro, etc.
Este artigo possui dois objetivos:
- Explicar como são feitas as análises de viabilidade de projetos
- Entender como a tecnologia da informação pode auxiliar, impulsionar ou se beneficiar da análise e viabilidade de projetos.
Como o texto ficou extenso e super completo, eu fiz algumas divisões de conteúdo:
O que é viabilidade de projetos?
Quais são os tipos de análise de viabilidade?
Quem é o responsável pela análise de viabilidade?
Quando deve-se realizar a análise de viabilidade?
Toda empresa precisa decidir em que e como alocar seus recursos para atingir seus objetivos e metas de curto, médio e longo prazo. Logo, várias das iniciativas que surgem acabam disputando o orçamento.
A análise de viabilidade de projetos é o estudo que evidencia se um projeto deve ou não sair do papel. Este estudo é feito com a utilização de técnicas, checklist, formulários, ferramentas e indicadores.
Isso significa que antes de qualquer ação sair do papel, as organizações devem saber se um projeto atende aos requisitos para ser executado.
Qual o papel da TI, neste contexto?
Suportar a organização para trabalhar com dados fidedignos (caracterizado por ser real e verdadeiro) na análise de viabilidade
A TI tem uma difícil missão de guiar a empresa a utilizar e aplicar a tecnologia como fator de vantagem competitiva para elevar as chances de acerto na análise de viabilidade. Pois, a confiabilidade e a maneira como ocorre o processo de desenvolvimento de novos produtos ou serviços, é um fator determinante para o sucesso.
A área da TI pode contribuir muito com a simples utilização de sistemas que garantam a informação instantâneas e confiável.
Imagine que a sua empresa necessita avaliar mais de uma filial, em estados diferentes, ou seja, com operações, lojas, centros de distribuição espalhados por diferentes áreas geográficas. Como fazer a coleta de dados e informações se estas informações não estiverem alocadas em algum sistema?
Muitas vezes, é necessário que os avaliadores tenham em mãos relatórios complexos do funcionamento da empresa, da sua capacidade tecnológica, recursos humanos, dos impostos aos quais o negócio está submetido e assim por diante.
Quais são os tipos de análise de viabilidade?
A análise pode ser realizada a partir de diferentes pontos: análise da estratégia, análise técnica, operacional, legal, econômico-financeira, ambiental, mercadológica, política, fiscal, localização, etc.
É importante destacar que elas não são excludentes, ou seja, é possível que você tenha um único formulário com todas estas análises juntas. Separei aqui algumas que eu considero relevantes, veja só:
Análise de viabilidade estratégica
O principal objetivo aqui é entender se o projeto está alinhado aos objetivos estratégicos.
Por exemplo: eu tenho uma empresa que fabrica calçados e meu objetivo estratégico é dominar o mercado online americano em 3 anos. Um projeto para ampliar uma loja no Sul do Brasil que apresenta resultados ruins, é colocado em pauta.
Este é o momento para verificar se o projeto agregará ao caminho que a empresa pretende seguir estrategicamente, ou não. É extremamente importante que o objetivo do projeto esteja em sintonia com a direção de desenvolvimento dos negócios.
A primeira pergunta do seu check list poderia ser: qual a relação deste projeto com o planejamento estratégico?
Qual o papel da TI, neste contexto?
O papel da TI é extremamente importante. Voltemos ao exemplo acima (sobre a fábrica de calçados). Imagine que a tal fábrica fictícia do Sul esteja precisando de ajuda e não consiga altos recursos para projetos complexos. Que tal a área de TI prestar suporte analisando os processos, otimizando os processos com a ajuda da tecnologia e assim, juntos, entregarem ótimos resultados?
Agora, digamos que o projeto tenha sido aprovado na análise de viabilidade estratégica. Você concorda que a tecnologia está presente em praticamente todos os negócios hoje em dia? Pois bem, a área da TI deve estar alinhada com os objetivos estratégicos da empresa.
Assim que algum projeto for iniciado, pode-se pensar de que maneira a tecnologia impulsionaria o sucesso deste projeto.
Análise de viabilidade técnica
A análise de viabilidade técnica ou tecnológica avalia se existe tecnologia e conhecimento para possibilitar a proposta. Ela examina a capacidade operacional da própria empresa, ou seja, se esta possui equipamentos, conhecimento e matéria-prima para levar adiante a proposta.
Os requisitos técnicos do projeto recebidos, analisados, são factíveis?
Qual o papel da TI, neste contexto?
Neste contexto a área de TI torna-se mais atuante em processos de escritórios. Uma vez que processos industriais recorrem ao setor de engenharia para tornar um projeto tecnicamente viável.
Falando de processos de negócio, aqueles que acontecem nos escritórios, a área da tecnologia da informação é muito mais do que um simples suporte. Pode ser uma TI estratégica, por exemplo. A visão e olhar para projetos que não são viáveis tecnicamente para torná-los viáveis, transforma a TI em uma área ativa e com grande valor para o negócio.
Análise de viabilidade mercadológica
Existe também o estudo de viabilidade mercadológica ou de marketing. Afinal de nada adianta trabalhar em alguma coisa que não tenha mercado ou que seja parte de um mercado muito concorrido.
Questão a ser respondida: Há mercado para o serviço ou produto do projeto em análise?
O escritor guru da estratégica, Michael Porter, criou uma matriz que auxilia na hora que você queira identificar o posicionamento do produto no mercado. Vale a pena conferir!
Qual o papel da TI, neste contexto?
Sua empresa identificou que existe mercado para o seu produto, porém este mercado fica do outro lado do mundo. E agora? Desisto do projeto ou solicito o apoio da TI para:
- Criar uma loja online
- Encontrar ferramentas que possibilitem reuniões remotas
- Automatizar o processo para que o próprio cliente realize a compra e facilite o envio de documentos e notas fiscais,
- Etc.
Sempre o sucesso versus o risco. A análise de viabilidade serve exatamente para isso. Medir o sucesso versus o risco. Porém, no mercado global e competitivo que temos hoje, nenhuma hipótese deve ser completamente descartada por parecer absurda.
Análise de viabilidade legal
A viabilidade legal estuda se a iniciativa está dentro das normas e leis do país em que o projeto será implantado e se este é condizente com as normas da própria organização. Em alguns casos, a análise de viabilidade legal é realizada por advogados.
Qual o papel da TI, neste contexto?
Neste contexto eu trago o papel da TI mais como um alerta. Pois, a desatenção ou desconhecimento aos requisitos legais podem acarretar em grandes danos para as organizações. Ou seja, antes de contratar qualquer tecnologia, verifique se esta tecnologia atende aos requisitos legais previstos no projeto. Se o projeto não possui requisitos legais, atente-se mesmo assim.
Análise de viabilidade ambiental
Outro tipo de avaliação é a ambiental. Nesse caso, são investigados os impactos ambientais que o projeto pode gerar.
Algumas fontes de financiamento e órgãos públicos — bancos, por exemplo — podem pedi-la por meio de requisição de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) ou ainda Levantamento de Aspectos e Impactos ambientais (LAIA).
Uma dica aqui é avaliar o impacto não só negativo, mas também o impacto positivo. Já passamos da fase de se preocupar com os danos ao meio ambiente, o pensamento agora já é em ajudá-lo a se reestabelecer.
Cada vez mais vemos empresas investindo fortemente em ações ambientais e sociais. Projetos com esse viés deveriam ser favoritados!
Qual o papel da TI, neste contexto?
O que a TI tem para agregar na viabilidade ambiental? TUDO!
Aqui eu gostaria de pedir licença e focar na utilização de papel. Quando uma empresa é forte em tecnologia da informação, ela reduz significativamente a circulação do papel. Reduzindo o uso do papel a gente consegue reduzir o consumo de florestas gigantescas! Hoje em dia isso é muito bem visto pela sociedade (ainda bem, né?).
Análise de viabilidade fiscal
A viabilidade fiscal examina a incidência de questões fiscais sobre a iniciativa. Subvenções, renúncias fiscais, tributações existentes, programas de incentivos, dentre outros fatores, podem facilitar ou inviabilizar a execução da iniciativa.
Análise de viabilidade da localização
A localização pode ser um ponto definidor para a execução da proposta, dependendo do tipo de projeto ela pode definir seu sucesso ou seu fracasso. Neste caso, fatores como: disponibilidade de pessoas capacitadas no local, de recursos disponíveis, bem como a logística e o mercado consumidor, são postos em análise.
Há casos em que algumas empresas, para entrar no mercado, só conseguem fazendo a compra da empresa concorrente, pois dependem dos recursos desses para poder realizar o empreendimento.
Qual o papel da TI, neste contexto?
Neste caso eu reafirmo que o papel da TI é fundamental para viabilizar questões de localização. Seja para implementar o negócio ou apenas para facilitar a integração de informação entre unidades.
Análise de viabilidade econômico-financeira
Um último tipo de viabilidade que mencionarei é a viabilidade econômico-financeira. Esta examina as possibilidades de o projeto ser financiado de acordo com as fontes de financiamento existentes. Nessa análise, o que está em questão é se a proposta atende às expectativas dos investidores e se existem recursos suficientes para mantê-la ao longo do tempo em que será desenvolvida.
Nesta análise também é verificado o retorno sobre o investimento (ROI). Este é um dos principais fatores na análise de viabilidade de um projeto, já que a execução da iniciativa só será realizada se for rentável. Observa-se, assim, se há capacidade da iniciativa em gerar recuperação de capital, ou seja, de haver retorno do investimento.
Viabilidade econômico-financeira: como fazer?
Para realizar esse estudo é importante conhecer as receitas da empresa em questão e do projeto de investimento em análise. Nenhum financiador vai aprovar um projeto que não é rentável. Qual é a receita estimada?
É importante ter clareza, ainda, quanto aos custos e despesas associados ao projeto, já que eles impactam o lucro. Os custos referem-se diretamente à execução do produto ou serviço associado ao projeto e as despesas são relacionadas indiretamente a esses produtos e serviços.
Conheça também o fluxo de caixa da corporação, que consiste na entrada e saída de recursos financeiros de uma empresa. Durante a execução do projeto, o fluxo de caixa pode ser negativo, pois muito dinheiro está sendo investido em um produto ou serviço que ainda não está pronto para ser vendido.
Quando o projeto terminar, o fluxo tende a ser positivo, já que os produtos ou serviços começam a ser comercializados. Realizar a projeção do fluxo de caixa do projeto é imprescindível.
Aqui vai uma dica importante: Foque em gerenciamento ágil de projetos e terás este fluxo positivo me menos tempo!
Existem alguns cálculos que devem ser levados em consideração nessa análise. Dada a sua importância, vou explicá-los aqui.
Análise de Relação de Custo-Benefício (RCB)
A análise de Relação de Custo-Benefício (RCB) deve ser utilizada quando há dúvida se um projeto deve ou não ser financiado. Esse exame permite analisar quantitativamente os custos e os retornos de um projeto.
Essa avaliação deve ser realizada para todos os projetos concorrentes, que devem ser comparados, para que o mais viável seja escolhido. O RCB é obtido dividindo-se o valor do investimento pelas receitas a serem obtidas.
Por exemplo, se um projeto necessita de R$ 200.000 de investimento e tem receitas previstas para R$ 420.000, o RCB será:
RCB = R$ 420.000 / R$ 200.000 = 2,1
Este RCB deve ser comparado com o de outros projetos. O projeto com maior índice deve ser selecionado. Quando maior o resultado da divisão, melhor custo benefício.
Período de Payback simples
Payback é o tempo que a empresa levará para recuperar o valor investido no projeto. Ele é sempre uma estimativa, que leva em consideração quantos produtos ou serviços a empresa conseguirá vender ao longo do tempo. Ele deve ser utilizado para calcular o período (tempo) de retorno de um investimento.
O mercado e outros fatores podem reduzir ou aumentar o tempo de recuperação dos investimentos. Para obter o payback, divide-se o valor do investimento pelo valor da receita anual esperada. Se o resultado, que é o prazo de recuperação do investimento, for menor do que o desejado, o projeto é aceitável.
Por exemplo, se um projeto tem um investimento inicial de R$ 2 milhões e uma receita prevista de R$ 300 mil por ano, o payback será 3,3 anos. Ou seja, em 3 anos e 4 meses o investimento será recuperado.
O payback simples não considera o valor do dinheiro ao longo do tempo (inflação), sendo essa uma desvantagem. O payback descontado considera, utilizando, assim, o conceito do Valor Presente líquido, abordado abaixo.
Valor Presente (VP)
O valor presente analisa o quanto vale no presente o valor que entrará no caixa em uma data futura, ou seja, analisa-se um determinado valor levando em consideração o tempo.
Se eu tiver um projeto que durará 1 ano e outro que 10 anos. Qual devo escolher? Analisar valores absolutos me induzirá ao erro. Pois, 100 mil reais de hoje não são os mesmos 100 mil reais do amanhã. A inflação modifica isso!
Em resumo, quanto maior o VP melhor será o investimento. Veja como é feito o cálculo.
Fórmula: VP = VF / (1+ i )n
(Dica: Faça no excel! O excel possui esta fórmula pronta)
No qual:
VP = Valor presente — é o que desejamos calcular.
VF = Valor futuro — é quanto você estima receber no futuro.
i = taxa de juros ou inflação
n = prazo, tempo
Valor Presente Líquido (VPL)
O Valor Presente Líquido, chamado em inglês Net Present Value (NPV), tem o objetivo de verificar se o projeto terá ou não lucro, assim como o VP. No entanto, ele leva em consideração a relação entre as receitas e as despesas ao longo do tempo, submetidas a uma taxa de juros ou inflação futura.
Isso quer dizer que: O lucro do projeto no 1º ano é diferente do lucro no 2º ano. Mais diferente ainda começa a ser o lucro no 3º ano. Quanto mais se aproxima do final do projeto, menor os custos e maiores os lucros. O VPL leva este fluxo de caixa em consideração.
VPL Positivo = projeto resultará em lucro
VPL Negativo = Projeto resultará em prejuízo
Valor Futuro (VF)
O Valor Futuro é o índice que mostra o rendimento do dinheiro aplicado a uma taxa de juros em um determinado período. Ou seja, uma quantia de dinheiro aplicada hoje, a determinada taxa de juros, valerá quanto daqui a 5 anos?
Esse cálculo deve ser utilizado para ajudar a decidir em que investimento apostar.
VF = VP (1 + i) n
No qual:
VF = é o Valor Futuro, o que queremos calcular.
VP = quanto de capital (dinheiro) você possui hoje para investir.
i = taxa de juros.
n = Prazo, período em que o dinheiro ficará investido.
Retorno do Investimento (ROI)
O ROI (sigla do inglês Return on Investment) avalia a porcentagem de retorno que a empresa pretende alcançar em um dado prazo. Ou seja, estima, em porcentagem, quanto a empresa ganhará em determinado período, considerando o payback.
Ele é calculado da seguinte forma:
[(ganho obtido – custos) / Custos] x 100
Por exemplo, se uma empresa investe R$ 200.000 em um projeto e o ganho obtido, que é o lucro após a realização do projeto, é de 300.000, o ROI seria:
[(300.000 – 200.000) / 200.000] x 100 = 50%
Taxa Interna de Retorno (TIR)
A Taxa Interna de Retorno, chamada em inglês de Internal Rate of Return (IRR), é o valor que o investidor obtém sobre o dinheiro que está sendo investido no projeto a cada ano antes que o investimento inicial seja recuperado. Diferentemente do VPL, que considera basicamente o fluxo do caixa, a TIR foca no tempo.
Esse indicador deve ser utilizado para comparar a rentabilidade do projeto com uma aplicação financeira ou com a inversão em outro projeto. Ela precisa ser maior do que a taxa de remuneração de outra aplicação para que o projeto seja viável.
Este cálculo poderá dizer: O que vale mais a pena, investir o dinheiro em uma aplicação bancária ou investir o dinheiro em um projeto da empresa?
Quem deve executar a análise de viabilidade do projeto?
A análise de viabilidade não é uma ação feita somente pelo gestor do projeto. É uma análise que deve passar por diferentes setores dentro da organização. Você percebeu que existem pontos de vista técnico, mercadológico, financeiro, etc.
Seria um grande erro alguém executar esta análise sozinho, até porque, diferentes perspectivas apresentarão uma visão muito mais crítica e com mais chances de sucesso.
Entretanto, a função do gestor do projeto é garantir que ela aconteça e acompanhar o seu desenvolvimento. Uma ótima iniciativa é criar um workflow de análise para que tudo aconteça automaticamente e todas as informações fiquem registradas.
Bônus: Conheça 5 ferramentas para gestão de projetos.
Quando deve-se realizar a análise de viabilidade?
Os projetos podem ser avaliados em três momentos distintos: antes de o projeto ser autorizado, ao final da fase de planejamento do projeto e quando há solicitação de mudança no projeto, durante sua execução.
No primeiro caso, o projeto ainda está em fase de elaboração, e a sua avaliação vai permitir ou não que ele passe para a parte de planejamento. Nessa fase, a avaliação considera fatores estimados, pois as variáveis concretas só aparecem após o planejamento do projeto.
No segundo momento, o projeto já foi planejado e os recursos, escopo, riscos, taxa de lucro etc. já foram definidos. Então, a avaliação de viabilidade é mais concreta e precisa. Se aprovado, o projeto pode começar a ser executado.
Um terceiro momento propício para avaliação é quando alguma mudança é solicitada no decorrer da execução do projeto. Antes que ela seja aprovada, o analista deve examinar os impactos e consequências das mudanças, projetar cenários, calcular riscos e só depois aprovar ou reprovar a alteração.
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Ufa, acabamos!
Ao longo deste artigo, você descobriu inúmeras dimensões da análise de viabilidade de projetos. Agora, leve todas estas dicas para o seu dia a dia. Eu espero que elas tenham sido uteis para você!